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As “Bernardas Albas” fecham as casas, que é como quem diz, as nossas instituições são a cada dia mais coercivas.”

No dia 1 de dezembro, sábado, às 21h30, o Teatro-Cine de Torres Vedras apresenta a peça de teatro A Casa de Bernarda Alba. Dirigido por João Garcia Miguel, este espetáculo é uma adaptação da peça de teatro do espanhol Federico Garcia Lorca.

“Sinto a poesia, a vida, o olhar e a missão artística de Federico Garcia Lorca como uma conexão profunda com a terra e o corpo. Esses são como parceiros e cúmplices de sempre, antigos. A ligação com a escrita e o universo de Lorca é um entendimento do cosmos, uma herança perdida e reencontrada que se funda na lama em que se mergulha, procurando a sementes de flores. E música. A escolha de A Casa de Bernarda Alba é um apelo contra o isolamento que aumenta no mundo. É por isso um libelo, um resistir.

Regressam as “Bernardas Albas”, crescendo à luz cruel dos nossos dias, como monstros que despedaçam vidas. As “Bernardas Albas” fecham as casas, que é como quem diz, as nossas instituições são a cada dia mais coercivas. As oportunidades, não iguais para todos. Propagam discursos onde subentendem mecanismos de repressão e censura como se defendessem liberdades. Fazem-nos confusos. A diminuição da liberdade do indivíduo é uma atividade diária, uma sucessão de acontecimentos que não se conseguem repudiar e que nos acometem e acantonam em “existências prisão”. O medo. A ameaça da “morte do pai” – aquele que nos pode salvar e conduzir a um futuro melhor e brilhante é constantemente invocado. Fazemo-nos órfãos do futuro e do passado.

A exacerbação do presente ameaçador e perigoso é uma força que asfixia e atrofia os músculos do entusiasmo e da vontade de viver. Por oposição natural, a força da terra e da Deusa Mãe reacende-se e ressurge de modo confuso e paradoxal. O medo do corpo que se infantiliza e recusa morrer, procurando fixar-se num perpétuo presente imutável, amplia a perceção dos cinco sentidos. Na peça, é a morte do pai que precipita a clausura e opressão das mulheres. No mundo, é a separação do passado e a desagregação do presente que levanta sentimentos de desproteção e autoriza a escalada da opressão.

Ao futuro só chegaremos se formos obedientes e cumprirmos todas as regras. As que existem e as que ainda serão criadas. As irradiações de poderes autoritários disfarçados de democracia, exercem crescente influência limitadora da liberdade individual. O gigantismo das grandes instituições e estruturas sociais adaptadas a uma globalização invasiva, desenvolvem formas de despotismo aberto, sem pudor nem freio que as contenham. É o poder das novas ditaduras sociais que em nome da segurança, impõem ao cidadão global regras de conduta e de transparência que condenam a intimidade e a privacidade — como Bernarda Alba o exerceu em sua casa. Essas novas formas de poder surgem associadas às ordens e regras que as instituições sociais nos vão suave e gentilmente agrilhoando. O corpo e a terra precisam de falar. Demos-lhe a voz que Lorca nos deixou.”

João Garcia Miguel

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