DAS COISAS QUE ME IRRITAM: I
É SEMPRE BOA A TÁCTICA DO CALIMERO. Alija responsabilidades e os outros é que estão sempre mal. Nós estamos sempre bem, porque o problema não é nosso.
1. Há cerca de duas semanas a Dinamarca tinha anunciado restrições às entradas de cidadãos estrangeiros, e regressos de cidadãos seus no território, impondo uma regra de controlo de risco de infecção por Covid19. Esta semana o UK , aplicou também uma regra para protecção do seu território, obrigando os seus cidadãos a quarentena no regresso, caso viagem para países fora do corredor estabelecido por Londres.
Numa primeira fase, a da Dinamarca, o MNE Santos Silva, apressou-se a anunciar retaliações seguindo o principio da reciprocidade face à Dinamarca mas depressa mudou o discurso. Com o Reino Unido, apressou-se a chamar idiotas aos ingleses, achincalhando-os, que estavam a ver mal o problema, que era injusto e que não percebiam nada disto pois o território do UK era mais perigoso que o de Portugal, o que em bom rigor não corresponde à verdade. António Costa surfou a onda e fez um twitt à Trump, expondo-se ao ridículo e levando uma resposta de um internauta que não queria e que achincalha Portugal.
2. A própria União Europeia recomenda aos seus Estados membros que apenas abram as fronteiras a cidadãos de países extra-europeus que apresentem uma média móvel em 14 dias de novos casos igual ou inferior à média “interna”. Este critério epidemiológico com os dados disponíveis esta semana é definido entre 16 e 20 casos novos de infecção por 100 mil pessoas relatados ao longo dos últimos 14 dias, deixando assim de fora, e bem, países como os EUA, o Brasil, a Rússia e o México. Ao mesmo tempo o ECDC da mesma União Europeia critica o UK por introduzir quarentena obrigatória aos seus cidadãos que viagem para países ou regiões da UE ou extra UE, cuja média móvel em 14 dias de novos casos seja superior a 20 casos por 100 mil habitantes. Ou seja, recomenda uma norma, mas depois critica-a. É mais uma para o baú das contradições, pois há que fazer concorrência à OMS nesta área.
3, Parafraseando a minha amiga Isabel Pereira Dos Santos, com a qual concordo neste aspecto e não diria melhor, “Há uma coisa que nunca entenderei: que as pessoas olhem para as posições de outros países como se eles tivessem alguma obrigação de defender outra coisa senão os interesses deles. (Podem ser bem ou mal entendidos, claro, mas isso é outra coisa)”. Ora é assim que a táctica do Calimero utilizada até à exaustão por Portugal não me parece ser o melhor caminho. Talvez fazendo por “caber” nos critérios seja a melhor opção quer para a fluidez do turismo para o país, mas sobretudo para a nossa saúde pública. Pois cumprindo o critério, significa que a situação em Portugal melhorou substancialmente. .
4. Aqui cito, e subscrevo a minha amiga Rita Carneiro, “Esta da falta de apps (óbvias e que funcionem) é uma coisa que não me entra na cabeça. Deixem lá a outra para os telemóveis, mas descubram maneira de fazer conversar sistemas em vez de andarem a criar camadas sobre camadas de ineficiência, irra! Outra que me enfurece, é não terem criado um raio de uma papeleta electrónica com os dados pertinentes, de preenchimento obrigatório para toda e qualquer criatura que entre por um aeroporto, e de tratamento automatizado. Fico roxa de vergonha cada vez que vejo o pessoal com a folhinha A4, a perguntar onde é que entrega (quando sequer teve a sorte de a ter recebido, e dado ou trabalho de preencher). E ando a dizer isto há semanas – espera, há meses!” Ou seja, nós se calhar queríamos que os outros países fossem a bandalheira que nós temos nos nossos aeroportos em que entra tudo e sem controlo epidemiológico minimamente eficaz. Dá-se um papel, um pretenso inquérito epidemiológico e quem o recebe leva-o para casa. Se o entrega ou não depois logo se vê. O que me espanta mais nisto, é que numa das CI da semana passada, Graça Freitas quando instada por um jornalista a responder por isto, mostrou uma confrangedora surpresa sobre a metodologia que se estava a utilizar nos aeroportos. Uma lástima.
5, Portando por aqui estamos nas lamentações, ameaças de retaliações e a fazer figura de urso a contestar indicadores onde hoje somos claramente perdedores, desde a bandalheira que se instalou no combate ao Covid19 na AML. E, ao mesmo tempo que escrevo este texto, ainda estou a ouvir na SICN a Ana Gomes a insultar os ingleses e a dizer que a diplomacia tem de ganhar músculo para resolver este problema, até porque o território do UK está pior que o nosso. Não Ana Gomes, hoje não é assim. Felizmente já há muita gente que saiu desse discurso, até porque os dados o desmentem. É que o UK tem mais testes por milhão de habitantes, e menos casos por milhão de habitantes que nós.
6. Mais trabalho e menos chinfrim precisa-se, porque o que temos é de acabar com a bandalheira na AML, controlar melhor as entradas nos nossos aeroportos e travar a progressão da infecção. Dá trabalho? Dá. Mas temos de o fazer. Mais do que pelo Turismo, pela nossa própria saúde.