
Não há quem domine melhor os pratos do que eles. Correm o país de norte a sul, onde juntam milhares de pessoas para ouvir e dançar ao som do que de melhor sabem fazer: o scratch. DJ Ride e Stereossauro dão corpo aos Beatbombers, a dupla que subiu, ontem, ao Palco Neptuno do Santa Cruz Ocean Spirit. “Beatbombers, basicamente, é um magro e um gordinho” começou por dizer Ride, em jeito de brincadeira, ao Torres Vedras Web.
“Podemos explorar mais o ‘giradisquismo'” acrescenta Stereossauro. Porque, se no início, “começámos numa cena mais específica de scratch, fazíamos mais live acts”, nos últimos anos a dupla passou a dedicar-se ao dj set, à semelhança do que acontece a solo. “Mas é muito mais divertido porque temos quatro mãos, podemos fazer mais coisas e explorar outros caminhos.”
Foi assim que o recinto do Aldeia Neptuno voltou a encher para assistir ao espectáculo desta dupla, que assumiu o controlo da cabine do festival logo depois de Guilhas. Pouco passava da meia-noite quando arrancou uma actuação que não fugiu ao estilo a que já nos habituaram, até porque, lembram, “estamos com muita energia, andamos a treinar para os campeonatos há muito tempo.”

Os Beatbombers trouxeram consigo “muita música nova, muitas coisas que andamos a testar”, mas onde não faltaram sucessos como a mistura de Verdes Anos, de Carlos Paredes, assinada por Stereossauro. “Este é o nosso melhor set, a nível técnico e mesmo musical. É algo de que me orgulho bastante” confessa Ride, que justifica com as “muitas horas e muitos dias em estúdio.” E resume. “Um set a quatro pratos e duas mesas é o dobro do power e da emoção.”
Gira-discos, mesa de mistura e energia a dobrar
Mas o que é, afinal, o scratch? ” “É a manipulação de som com o gira-discos e a mesa de mistura” explicam. “Conseguimos, por exemplo, moldar uma nota musical à nossa maneira. O gira-discos é como um teclado em que podes pôr o som que quiseres nas teclas.” Controlar a velocidade do disco, ligar e desligar o som, resulta no que acabamos por ouvir, e que se enquadra num estilo intimamente relacionado com o hip-hop e a cultura urbana.
“Há pessoal que não sabe explicar mas, ao ouvir, sabe reconhecer” destaca Ride. De facto, mesmo para os menos entendidos na matéria, o estilo de que falamos torna-se inconfundível ao fim de alguns minutos de pratos a girar. “Apontámos muito as direcções para tornar o scratch em algo indissociável da música. Isso tornou-se muito na nossa imagem de marca” acrescenta Stereossauro, pouco antes de terem subido ao palco, numa noite em que o nevoeiro deu tréguas na Praia Centro.

“Sou fã desta cultura do hip-hop, da música urbana, do scratch. Faço música porque quero ouvir este estilo, faço um mixtape porque quero ouvir um mixtape neste formato.” A dedicação e a paixão por aquilo que se faz, aqui traduzidas nas palavras de Stereossauro, parecem compor a chave para o sucesso desta dupla que foi campeã mundial de scratch em 2011. Mas Ride não tem dúvidas. “Graças a Deus temos tido sucesso e é o nosso ganha-pão, mas se não fosse, fazíamos na mesma.”
Na final de mais um campeonato do mundo
Com um percurso marcado pelo reconhecimento internacional ao longo dos últimos anos, a dupla apurou-se recentemente para a fase final do mundial DMC Online DJ Championship. É já esta Quinta-Feira, 21, que têm de fazer o upload do set final que apresentam nesta última fase da edição online da competição. “Está meio caminho andado, mas ainda falta a parte mais difícil” lembra Stereossauro quando recordamos que ficaram em primeiro lugar na fase de apuramento.

“Portugal não é muito forte em termos de scratch e gostávamos imenso que houvesse mais concorrência, porque isso também implicava que puxássemos por nós” explica. “Estou deserto que apareça um puto que me vá tirar o descanso e que me faça redobrar esforços.” Até lá, resta continuar as “battles um contra o outro.”
Fora do scratch, o cenário muda de figura. “Há projectos muito interessantes e com sucesso lá fora, como os Buraka Som Sistema e o Razat, por exemplo. Nomes novos que estão a conseguir furar e a editar em editoras de renome… Vai sempre havendo boas surpresas.” É entre dois dedos de conversa que os Beatbombers olham para o panorama da música electrónica nacional de modo descontraído. Sempre sem perder o foco, e com as mãos prontas para fazer os discos girar. “Estamos bastante focados e concentrados naquilo que estamos a fazer.”