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O mote “Ninguém fica para trás” inspira voluntários da União Audiovisual na região do Oeste, que há um ano garantem a entrega de cabazes alimentares aos técnicos da cultura que a pandemia de covid-19 deixou sem trabalho.

“Assim que soube da existência da União Audiovisual”, em abril de 2020, o técnico, músico e professor de bateria Alex Santos entrou em contacto com os responsáveis, voluntariando-se “para contribuir” para a associação formada para apoiar técnicos e artistas da cultura, espetáculos e eventos.

Em resposta recebeu o repto para “a criação de um grupo de apoio na zona Oeste”, que prontamente se tornou realidade, pela mão de uma equipa de sete voluntários, coordenados por Alex Santos, e responsáveis pela recolha de bens alimentares e produtos de higiene em vários locais dos concelhos das Caldas da Rainha, Lourinhã e Peniche.

Ao longo de um ano, vários técnicos “fizeram chegar os pedidos de apoio” ao polo onde as situações são avaliadas de acordo “com o número de pessoas do agregado familiar e as necessidades específicas”, explica Alex.

A União Audiovisual do Oeste, a todos “conseguiu sempre dar resposta”, mas o agravar da crise pandémica, com a proibição de espetáculos ou eventos culturais, acabou por contribuir para a redução do número de famílias a recorrer àquele apoio devido ao abandonar da profissão.

“Esta situação prolongou-se por mais tempo do que as pessoas esperavam e muitos tiveram que deixar esta profissão e procurar outros caminhos que lhe permitissem assegurar o sustento das famílias”, sublinha o coordenador do polo que apoia atualmente 10 pessoas de quatro famílias.

Um número que, “felizmente, não é tão elevado como noutras zonas do país”, e que permite que a ajuda seja mais personalizada.

De duas em duas semanas, às terças-feiras, Alex Santos, interrompe as aulas de bateria que continua a dar ‘online’, e ruma a Caldas da Rainha, ao espaço cedido pela Associação A062, onde os voluntários vão colocando os produtos doados por particulares e empresas.

Ao longo do percurso, aproveita para “recolher as doações em Peniche, comprar os frescos e a carne e mais algum produto que esteja em falta”. Bens que descarrega depois na sede da A062, onde, em conjunto com outros voluntários, se preparam os cabazes.

Nos sacos é preciso “pôr leite, papas e fraldas para quem tem bebés”, assegurar “variedade de produtos adequados a quem tem pais de mais idade ao encargo”, garantir que os produtos se escoam “de acordo com os prazos de validade” e completar os cabazes de acordo com a ordem em que vão ser levantados.

Porém, o empenho dos voluntários vai mais longe e chega mesmo à porta de quem “não tem condições de vir buscar” os alimentos. Por isso, Alex volta a carregar a carrinha com os cabazes respetivos e faz-se à estrada que o leva aos concelhos do Bombarral e do Cadaval para deixar em casa de quem precisa o cabaz que garante alimentos para os 15 dias seguintes.

Antes de partir faz o balanço dos bens que ficam em ‘stock’ para as próximas semanas, explicando que o polo “tem funcionado como interposto para outros locais para onde são enviados os bens que são doados em maior quantidade e que excedem as necessidades destas famílias”.

Já noutros pontos do país, afirmou o vice-presidente da União Audiovisual, Ricardo Queluz, durante uma visita ao polo do Oeste, “as necessidades têm aumentado” com a distribuição de bens, que em abril de 2020 arrancou com cerca de 20 cabazes, a ascender agora a “cerca de 344 cabazes que beneficiam cerca de 800 pessoas”.

A associação que previa “dar esta ajuda durante três ou quatro meses”, quando confrontada pelo prolongamento da crise pandémica acabou por abrir polos, para além do de Lisboa (aquele que mais pedidos de ajuda recebe) e o do Oeste (que inclui um núcleo em Leiria), em Coimbra, Porto, Alentejo, Algarve e no arquipélago dos Açores.

Com o apoio de empresas e artistas que têm desenvolvido iniciativas de apoio à angariação de fundos a União Audiovisual tem conseguido responder a todos os pedidos a ajuda e fazer jus ao mote “Ninguém fica para trás”, levando apoio alimentar a profissionais de todo o país.

“Havia a expectativa de que este ano já fosse possível voltar a trabalhar”, mas, com o evoluir da pandemia é cada vez maior a convicção de que “isso não irá acontecer antes do próximo ano e, no caso desta profissão, a retoma só acontecerá no verão”, afirma Ricardo Queluz, sublinhando a importância de manter esta rede de apoio aos técnicos, músicos, aderecistas, cabeleireiros e maquilhadores cujo trabalho depende da realização de espetáculos ou da produção televisiva.

No setor que “já é por norma fragilizado, sem ter sequer direito a CAE próprio nas finanças” a união em torno dos profissionais “veio para ficar”, garante Ricardo Queluz. No entanto, depois da pandemia, será tempo de a associação dar novos passos, no sentido da “dignificação da profissão e da maior visibilidade” dos técnicos essenciais à maioria dos espetáculos.

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Agência Lusa
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