
Juntaram-se há dez anos com o objectivo de “dar música” ao Festival das Vindimas, que elege, todos os anos, a Rainha da Vindimas do concelho de Torres Vedras. O nome do grupo nem deixa margem para dúvidas, com uma referência (mais que) directa ao deus romano do vinho. Dali para o Carnaval foi um pequeno passo, com a Banda Baco a garantir a animação de milhares de foliões a partir do topo do Tó’Candar.
“Criou-se um bom grupo de amigos que gostam de música. Fomos andando e hoje estamos aqui” conta Luís Pedro Faustino, o baterista da formação, antes de subir ao palco do festival “Adoramos a nossa Gastronomia”, na Sala Tejo do MEO Arena, em Lisboa. “Estamos direccionados para a música portuguesa e daí levamos um bocadinho de tudo: vamos buscar os clássicos e juntamos uma ou duas músicas mais actuais” explica Carlos Cordeiro, vocalista deste grupo que se dedica, essencialmente, a covers da música portuguesa. “Gostamos de fazer sobreviver a música portuguesa pelos seus grandes temas de autores como José Cid, Simone de Oliveira, Carlos Paião…”
Luís Pedro lembra como “é importante ir buscar o que foi feito e continuar a reviver”, ainda por cima quando se trata de músicas que todos conhecem. “Adaptamos e fazemos arranjos um bocadinho diferentes para adaptar à sonoridade actual” sublinha Carlos, para depois explicar. “Não somos propriamente uma banda de covers normal, no sentido em que nós é que nos adaptamos àquilo que o cliente necessita. Os elementos foram mudando ao longo dos anos, também respondendo às necessidades daquilo que a banda precisa de fazer.” O baterista e o vocalista, que estiveram à conversa com o Torres Vedras Web, são os elementos que “sobrevivem” da banda original.
Quando a amizade é a palavra-chave
“Apesar de sermos todos da mesma zona, não nos conhecíamos” conta Luís Pedro sobre o início deste projecto musical bem conhecido de todos os torrienses. “Além de ficarmos a tocar juntos, ficámos amigos. O que metemos sempre em primeiro plano é a nossa amizade” defende, para depois explicar que “uma das características de que não abdicamos é estarmos sempre animados. Não somos os melhores músicos do mundo, como é lógico, mas como estamos tão divertidos passamos essa energia para o público.” Uma energia que passa e que se percebe de onde vem. “Logicamente que é mesmo a amizade que põe isto a funcionar.”

“Ai que saudade que eu tenho de ter saudade…” O “Desfado” de Ana Moura preenchia a sala e arrancava os aplausos de quem passava pelo festival gastronómico. Coube à banda torriense dar início a uma noite de música, que havia de continuar com Katia Guerreiro. “Com 14 anos comecei a ir para os bares… A primeira vez que fui tocar foram os meus pais que me levaram e esperaram que eu acabasse para me levar para casa” conta Luís Pedro, que integrou a Banda dos Bombeiros durante vários anos, e cuja paixão pela música nasceu por causa “de um vizinho que tocava bateria. Eu comecei a ouvir desde novo e depressa percebi que gostava daquilo.”
Já Carlos Cordeiro admite que “foi um bocado por acaso” que começou a cantar. Era em casa que ouvia a irmã, professora de Canto e de Formação Musical no Conservatório Nacional. “Um dia, quando tinha uns 8 anos, chateou-me para eu começar a tocar guitarra. Foi por aí que comecei.” A passagem pelos Escuteiros e as animações na igreja pareciam um pequeno passo até aos convites para cantar em casamentos e para integrar uma banda de baile. Isto, claro, até ao dia em que chegou o convite para ingressar na Banda Baco. “Nos últimos anos tenho-me dedicado praticamente só à música… Mas nunca tive o sonho de ser cantor. E continuo a não ter” diz entre risos, no estilo bem-disposto que caracteriza a banda.
Dez anos depois… O balanço
“Acho que este é um núcleo bom. Não somos melhores que ninguém, mas conseguimos marcar a diferença” diz Luís Pedro, lembrando os concertos que já têm em agenda. “Queremos tentar chegar a outros públicos e não nos cingirmos só aos eventos privados, que é o que acontece muito agora. A ambição deste projecto é essa” explica Carlos, que aponta o profissionalismo como um factor indispensável. “Isto não é mais um concerto, é um concerto como se estivesses a trabalhar para o Rui Veloso, por exemplo. O profissionalismo tem de ser o mesmo. Ter brio nas coisas é importante, e é isso que temos conseguido nos últimos tempos.”
E quando a amizade e o profissionalismo andam de mãos dadas, só se podia traçar um balanço “super positivo” da primeira década da Banda Baco. “De todos os músicos que já cá passaram, acho que não há ninguém que não goste de cá vir. A marca que fica é que toda a gente gosta de passar por aqui” conta o vocalista. Já Luís Pedro acrescenta que “acabou por ficar a prata da casa. Muitos deles olham para a música como um ‘trabalho obrigatório’ e nós não encaramos isto assim. Por isso é que estes 10 anos, com muita luta, com muita chatice e com muito trabalho, são positivos.”
Muita luta, chatice e trabalho que, hoje, permitem uma conversa animada e descontraída, mesmo antes de subirem ao palco. “O balanço é tão triste, tão triste, que ficamos muito amigos” conclui em jeito de brincadeira. Chega a hora de rumar aos camarins e deixar tudo postos para subir ao palco desta sala de espectáculos lisboeta.