
Tiago Pombal, Ricardo Dias e Nuno Cruz são os três amigos que se juntaram para dar corpo ao Margem, o colectivo que promete “agitar” a cena cultural de Torres Vedras. A primeira iniciativa está marcada para esta Sexta-Feira, com o concerto dos Capitão Fausto no antigo refeitório da Casa Hipólito, no Bairro Arenes, mas o grupo promete não ficar por aqui. “É uma programação transversal e intergeracional, mas que se foca sobretudo numa mostra de correntes culturais mais à margem, alternativas” adiantam ao Torres Vedras Web.
“Já desenvolvemos algum trabalho na área, não só na programação musical mas também na parte artística e de curadoria” explica Tiago. “Foi ao encontro desse trabalho já desenvolvido na cidade que houve este conjugar de energias, não só entre nós mas também com a Câmara Municipal de Torres Vedras” que cedeu o emblemático espaço. Assim, avança, “conseguimos criar um cruzamento entre diversas abordagens artísticas e o património, indo ao encontro daquilo que poderá ser uma vontade dos cidadãos sobre a apropriação destes espaços e à criação de novas dinâmicas na cidade.”
Por tudo isto, o trio assegura que “o nome Margem surgiu muito naturalmente”, não se centrassem eles à margem do que está a acontecer em Torres Vedras. “Ao fim e ao cabo estamos mesmo à margem: estamos fora do centro da cidade e trazemos coisas fresh que estão à margem do mainstream artístico.” O objectivo passa por “trazer aquele underground para um espaço que é improvável” sintetiza Ricardo. Assumem-se como um colectivo, afastando qualquer modelo institucional. “Mais do que uma estrutura, funcionamos para o produto que estamos a desenvolver.” E não têm pudor em explicar. “Somos um colectivo de jovens que quer fazer qualquer coisa.”

“É um projecto à margem, nómada, que neste momento ocupa aquele espaço mas que poderá vir a ocupar outros” explica Tiago, isto porque “a ideia não é termos um espaço físico, mas sim ir-mo-nos ‘apropriando’ de espaços que estão devolutos, sem destino” desenvolve Ricardo. Para já, os próximos três concertos acontecem neste antigo refeitório – que, no futuro, irá dar lugar ao museu dedicado a Joaquim Agostinho. “A ideia principal é criar, à semelhança do que se passa nas grandes cidades europeias, um daqueles espaços jovens que fazem com que se possa usufruir daquilo que existe nas grandes cidades.” No fundo, pretende-se “trazer o que está a acontecer fora de Torres Vedras, para que os jovens aqui fiquem e usufruam dessas actividades culturais, seja pintura, fotografia, ilustração ou música.”
O renovado espaço que acolheu o Margem apresenta uma zona de concertos, uma galeria – “onde vamos ter exposições flash, que ocorrem ao mesmo tempo que os concertos” -, e ainda um bar de apoio àquelas duas zonas-chave. Mas Tiago e Ricardo lembram que nem sempre foi assim. “Aquele sítio não tinha nada, estava todo partido.” Instalação eléctrica e casas de banho foram algumas das lacunas com que se depararam. A partir daí, foram muitas horas de trabalho, que ainda se multiplicam até à abertura de portas, esta Sexta-Feira. Destacam o “leque de apoios que acreditam neste projecto” e sublinham o papel da Câmara Municipal, que consideram ter “uma visão muito diferente de muitos municípios.”
Música, artes visuais e património
“Não é um bar, não é uma sala de concertos, é o antigo refeitório da Casa Hipólito.” Os jovens que formam este colectivo fazem questão de lembrar a origem do espaço que os acolhe e que foi classificado como património de interesse municipal devido à sua arquitectura, que remonta aos anos 60. Um local com história que foi transformado para acolher realizações culturais, até Julho, sempre com artistas diferentes. “A ideia é haver uma rotatividade de estilos para chegar a todas as pessoas.”
Capitão Fausto, “uma das maiores bandas nacionais”, é o primeiro nome que o Margem traz a Torres Vedras já esta Sexta-Feira. A formação regressa ao oeste, desta vez para apresentar o novo álbum Capitão Fausto Têm os Dias Contados, que tem colhido rasgados elogios do público e da crítica. “Têm esgotado salas em todo o país, estão numa rota de sucesso” adiantam. “Esperamos que Torres Vedras não seja a excepção” confessam, entre jeito de desabafo e de brincadeira de quem ainda tem de deitar “mãos à obra” para que tudo fique pronto.
Cabe à ilustração de Cató ILUDE -“artista que bebeu muito da corrente artística das Caldas da Rainha e da Escola Superior de Artes e Design” -, dar cor à exposição inaugural da galeria do Margem. “É uma ponte que queremos desenvolver com a ESAD e com todo o meio artístico que se está a desenvolver nas Caldas” afirma Tiago Pombal. “Conseguimos juntar duas áreas que se completam bastante.” Ilustração e música estão de mãos dadas neste espaço que, como gostam de referir, é auto-gestionado. “Estes colectivos correspondem a necessidades e ao preenchimento de espaços que não existem” defende, sublinhando o carácter “espontâneo e genuíno” de grupos como este. “É super importante haver estes movimentos de cidadãos, é aí que se movimenta a veia artística mais genuína” sustenta Ricardo Dias, que sublinha ser “nestes ambientes que as pessoas acabam por despoletar a vontade de criar.”
No horizonte está B Fachada, já a 4 de Junho, que trará consigo Éme para abrir a noite, enquanto a exposição será dedicada à esfera da intervenção urbana. “Quando sairmos daquele espaço, ele estará completamente renovado de uma forma alternativa.” Por isso, lançam o desafio à criatividade de todos os que passarem pelo primeiro concerto promovido pelo Margem. “Levem autocolantes e cartazes, há uma casa de banho inteira para forrar.”
“Agregar a possibilidade de ouvir concertos fantásticos e ver exposições de nome num espaço pelo qual toda a gente em Torres Vedras tem um grande carinho” parece ser a chave para o sucesso deste colectivo que agora arranca. “Sente-se que as pessoas já estavam com saudades desta actividade e deste tipo de programação.” Por agora, resta-nos esperar por uma noite que promete marcar o panorama cultural torriense.