A associação TENTO procedeu recentemente ao restauro de uma pintura pertencente ao Convento do Varatojo, denominada Vir Dolorum, cuja autoria é atribuída à Oficina de Óbidos (mais concretamente a Josefa de Óbidos), tendo no passado dia 25 de janeiro sido inaugurada no Museu Municipal Leonel Trindade uma exposição que aborda esse trabalho de restauro e o estudo interdisciplinar desenvolvido a partir do mesmo (de técnicas, materiais, contexto histórico-artístico e expositivo).
Com curadoria de Vanessa Antunes, Vítor Serrão e Fernando António Batista Pereira, essa exposição, denominada Vir Dolorum: A emoção na Arte da Oficina de Óbidos, constitui-se como uma justa celebração de uma obra singular e inigualável, a única pintura conhecida da Oficina de Óbidos relativa à temática da emoção na dor.
De referir que todo o resplendor da pintura Vir Dolorum foi restituído no âmbito do projeto “As cores da terra pelas mãos de Josefa”, no âmbito do qual foi elaborado o mencionado estudo interdisciplinar, que permitiu vislumbrar novas perspetivas acerca da Oficina de Óbidos e da sua atuação no Convento do Varatojo. Vir Dolorum revive hoje a plenitude dos seus cambiantes originais, o que traz à luz toda a sua profundidade emocional, decorrente da representação comovente da dor humana num momento de pesar e contemplação.
Na inauguração da exposição Vir Dolorum: A emoção na Arte da Oficina de Óbidos esteve presente a vereadora da Cultura da Câmara Municipal, Ana Umbelino, que aproveitou a ocasião para enaltecer a dinâmica da associação TENTO, que tomou a iniciativa de apresentar uma candidatura ao Regulamento Municipal de Atribuição de Apoios, o qual proporcionou a verba que permitiu a realização do trabalho de restauro da pintura Vir Dolorum e a execução do respetivo estudo interdisciplinar. Ainda segundo Ana Umbelino, todo o processo desenvolvido pela TENTO, que teve como um dos seus momentos altos e finais o ato que se estava a realizar, implicou a criação de uma rede de relações, com múltiplos atores, que mutualizaram conhecimentos e competências, sendo que esse processo contribuiu para reforçar o sentido de pertença a uma comunidade ancorada em propósitos comuns.
Ainda na inauguração da referida exposição, um dos curadores da mesma, Fernando António Batista Pereira, efetuou um enquadramento da obra Vir Dolorum, a qual é parte de um conjunto de pinturas, que decoraram uma capela lateral da igreja do Convento do Varatojo, sendo a única desse conjunto que até há pouco tempo ainda se encontrava nesse espaço religioso. Outra dessas pinturas, denominada Menino Jesus Salvador do Mundo, está atualmente no Museu Nacional de Arte Antiga. Vir Dolorum é, segundo aquele estudioso, uma obra impactante, de dramatismo, executada por uma pintora que estava nos seus últimos anos de vida, e que terá transmitido as suas emoções pessoais para esse seu trabalho, o qual remete para uma dimensão de sofrimento, sendo que o mesmo era complementado por uma dimensão de esperança, na medida em que era acompanhado pela pintura Menino Jesus Salvador do Mundo.
A inauguração da exposição Vir Dolorum: A emoção na Arte da Oficina de Óbidos, a qual pode ser visitada até 25 de junho, chegou ao seu término com a realização de visitas-guiadas, que foram conduzidas por Fernando António Batista Pereira.
Refira-se ainda que, relacionado com esta exposição, realizara-se, anteriormente, no dia 20 de janeiro, no auditório do Edifício dos Paços do Concelho, o Congresso “As Cores da Terra pelas Mãos de Josefa | Novas Possibilidades”. Neste congresso, organizado pela Associação TENTO, enunciou-se novas possibilidades que a Oficina de Óbidos apresenta aos historiadores de arte e conservadores-restauradores contemporâneos com base no projeto de estudo, conservação e restauro da pintura Vir Dolorum.
De frisar a considerável presença de público que se verificou tanto nesse congresso, como na inauguração da referida exposição.