Mais de meia centena de tratores agrícolas circulam hoje em marcha lenta e a buzinar na região Oeste em protesto contra o aumento dos custos de produção, que não conseguem refletir no preço de venda dos produtos agrícolas.
Cerca de meia centena de veículos concentraram-se na Lourinhã, no distrito de Lisboa, de onde saiu por volta das 08:30, tendo chegado cerca de uma hora depois à Atouguia da Baleia, onde os esperavam mais cerca de 20 tratores.
Depois de se concentrarem na Atouguia da Baleia, no concelho de Peniche (distrito de Leiria), pelas 10:00 os tratores agrícolas seguiram para Óbidos em direção a Caldas da Rainha, onde vão entregar um caderno reivindicativo na delegação da Direção Regional de Agricultura de Lisboa e Vale do Tejo, também no distrito de Leiria.
“Queremos fazer-nos ouvir, manifestar as nossas preocupações junto do Governo e pedir algumas medidas de apoio”, afirmou à agência Lusa Rui Santos, agricultor há mais de 20 anos que disse que tem vindo “a trabalhar de calculadora na mão”, face aos aumentos constantes dos fatores de produção e dos combustíveis, sem “conseguir tirar rentabilidade”.
“Estamos a falar de muitos aumentos em tão curto espaço de tempo e é impossível fazer refleti-los nos preços de venda dos nossos produtos”, acrescentou.
Luís Ferreira, produtor há mais de 30 anos, explicou que a guerra na Ucrânia “não está a ajudar à exportação dos produtos, porque, se tivessem escoamento, não se enchiam tanto os mercados mais próximos”.
Segundo o agricultor, é a produção que está a absorver todos os custos, tendo em conta o preço de venda final dos produtos aos consumidores, pelo que defende uma entidade que regule os preços dos produtos agrícolas desde o produtor até ao consumidor final.
“O gasóleo, os adubos estão o dobro mais caros, todos os custos que temos subiram, menos o preço dos nossos produtos à saída do armazém”, referiu Pedro Malaquias, agricultor há mais de 20 anos.
Da mesma opinião, Jorge Pereira, agricultor também há mais de duas décadas, disse que, a manter-se o aumento dos custos e “se os produtos continuarem a não ter saída nem para exportação, é difícil continuar no setor”.
Com o protesto, os agricultores pedem apoios diretos ao consumo de combustíveis e da eletricidade, isenção de impostos no gasóleo agrícola à semelhança do que acontece na pesca, investimentos do Governo em infraestruturas de armazenamento de água para combater os períodos de seca e uma efetiva regulação dos preços dos produtos agrícolas.
Entre março de 2021 e março deste ano, os custos com os fatores de produção aumentaram 166,5% e a eletricidade, necessária para combater o período de seca, 28,7%, referiram as organizações organizadoras do protesto (Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste, Louricoop, Adega Cooperativa da Lourinhã e Cooperativa Agrícola de Peniche), citando dados oficiais.
Só no primeiro trimestre deste ano, acrescentaram, o gasóleo simples aumentou 33% e o gasóleo verde 43%, sendo indispensáveis às tarefas mecanizadas e à rega na agricultura, assim como às atividades logísticas do setor.
Citando dados do Instituto Nacional de Estatística, as organizações promotoras da marcha lenta alertaram para variações negativas nos índices de preços dos hortícolas frescos e da batata, comparando 2021 e 2022, sendo de -25,6% nos hortícolas e de -20,3% na batata entre janeiro de cada ano.
As quatro promotoras da marcha lenta têm reunião marcada hoje à tarde com o secretário de Estado da Agricultura.