“Tens esse dom tão natural, fazes sorrir uma pedra…” Foi com Alquimia que Miguel Gameiro e os Pólo Norte arrancaram o concerto que celebra os 20 anos da banda, no Teatro-Cine de Torres Vedras, no último Domingo. O Torres Vedras Web esteve à conversa com Miguel Gameiro no final deste espectáculo, que integrou as comemorações do 25 de Abril no concelho.
“Torres Vedras já é quase a minha casa” dizia o vocalista, em jeito de brincadeira, logo no início da noite. O que não sabia era que a Câmara Municipal de Torres Vedras havia reservado um momento para Carlos Bernardes, líder da Autarquia, subir ao palco de uma casa cheia para dar as boas-vindas a este “novo munícipe.” “Este concerto para mim teve um gosto especial, como acho que as pessoas perceberam” confessa Miguel Gameiro, que actualmente reside numa freguesia torriense. “É a primeira vez que toco aqui desde que vivo cá. Foi a consagração, foi muito bom tocar aqui.”
A formação juntou-se em 1994 e foi na passagem das duas décadas que preparou um espectáculo que encheu os coliseus de Lisboa e do Porto – o da capital deu origem a um DVD – e correu o país de norte a sul. “Estamos diferentes, tanto por dentro como por fora” admite o músico e compositor, entre risos, quando pensa no que mudou ao longo do tempo. “O que não mudou, de facto, foi a vontade de estar em palco. Aliás, se mudou foi para mais vontade de viver os momentos e de respirá-los” ressalva, explicando que hoje “damos outra importância ao tempo que estamos em palco, porque quando começámos éramos miúdos e tudo passava a correr. Não nos apercebíamos da importância que tinha para nós estar em palco a fazer música.”
Coube a Catarina Madeira, de 17 anos, encher o palco do Teatro-Cine durante a primeira parte desta noite. A jovem, que estuda na Academia de Música de Almada, arrancou e terminou da melhor maneira, sentada ao piano, de luzes ‘baixas’, e com música de Nina Simone. Logo depois foi a vez da torriense Leonor Madeira dar voz a poemas de Abril, que antecediam a chegada dos Pólo Norte. “É bom fazer parte de um concerto que celebra a liberdade. Nós nascemos todos num período pós liberdade, e ainda bem, porque a pior coisa do ser humano será a privação da sua liberdade, da sua opinião e do seu pensamento” defende Miguel Gameiro. “O pensamento livre é aquilo que nos mantém vivos e que mantém o nosso caminho como seres humanos.”
“E ao ver-te Lisboa, Lisboa…” O coro rapidamente se afinou e juntou a Miguel Gameiro e à banda, que percorreram êxitos como Aprender a Ser Feliz, A Dança ou Se eu Voltasse Atrás. O concerto contou também com a interpretação de vários temas assinados pelo vocalista, que se agarrou ao piano e arrancou da plateia ovações e braços no ar. Dá-me um Abraço foi a música que mais tocou Sílvia Abreu, de Torres Vedras. “Trabalho com crianças e há poucos anos fizemos um vídeo com muitos beijinhos, abraços e carinho ao som desta música, e é sempre uma canção que hoje me faz recordar aqueles momentos maravilhosos que se vivem” explica. “Desde o primeiro segundo que a empatia com o público foi evidente, e acontece porque ele [Miguel Gameiro] é genuíno. Foi uma noite fantástica. Sou fã já há alguns anos, e esta noite provou que temos um artista de mão cheia no nosso país.”
A empatia que o público comentava no final do espectáculo é fruto do conceito acústico e intimista que os quatro músicos recriam em palco. Miguel Gameiro explica que se trata de uma “química, ligação e proximidade de que gostamos muito” e que sempre vincou o percurso dos Pólo Norte. “A nossa maneira de estar em palco e na música sempre foi esta.”
“Gostei muito mesmo. Excedeu as expectativas.” A opinião é de Ana Teodósio, que mora em Torres Vedras há 16 anos e que não perdeu a oportunidade de assistir ao concerto de uma banda que admira há alguns anos. “Gostei muito da empatia que o Miguel criou com o público. Ainda fiquei mais fã” confessa ao Torres Vedras Web no final do espectáculo.
Numa noite repleta de surpresas que antecedia o dia da Revolução dos Cravos, o público torriense foi brindado com Verdes Anos, de Carlos Paredes, numa interpretação de Tiago Oliveira, na guitarra clássica, que arrepiou a sala. “O Tiago em determinada altura saiu do grupo e foi acompanhar o António Chainho, e tem uma ligação muito forte ao fado” explica Miguel Gameiro. Um dia, recorda, “começou a tocar os Verdes Anos num ensaio de som e foi espectacular”, o que fez com que a banda levasse a música para a estrada. “É uma canção lindíssima e brilhantemente interpretada por ele, que diz muito à nossa geração e às gerações antes da nossa.”
O futuro
“Estou a preparar um álbum novo a solo, que sairá em 2017, com um single ainda este ano, em Outubro” conta o vocalista da formação. “Depois é estrada fora com este meu álbum novo!” O ciclo Pólo Norte: 20 anos encerra no final deste ano mas Miguel Gameiro abre a porta a novos reencontros. “Daqui a uns anos voltamos a reencontrar-nos para celebrar novamente a música e a vida.”