
Ao aproximar-se o final do ano, a corrida às lojas cresce de dia para dia. O Natal caracteriza-se por uma crescente afluência aos estabelecimentos comerciais durante os meses de Novembro e Dezembro e as autarquias procuram dinamizar as cidades, de modo a destacar a importância do comércio tradicional. No arranque do mês de Janeiro, o Torres Vedras Web falou com alguns comerciantes torrienses, que fazem contas a esta época festiva.
Tal como tantos outros estabelecimentos torrienses, também as Modas O Tronco esteve aberto aos Sábados e Domingos durante o mês de Dezembro. José Júlio é o gerente desta casa, que é uma das mais icónicas da cidade de Torres Vedras. “Não faz sentido. A cidade esteve praticamente às escuras” explica, traçando um balanço negativo quanto ao impacto da época natalícia no seu negócio. “Não houve iluminação e é uma cidade que não tem apoio, ou seja, âncoras para manter o comércio local e tradicional.” As críticas à falta de investimento da Autarquia na decoração alusiva à quadra sucedem-se, enquanto aponta o exemplo de municípios como o das Caldas da Rainha.
Também a ACIRO – Associação Comercial e Industrial da Região Oeste não escapa às críticas deste comerciante, que acusa a organização de não “fazer frente” à Câmara Municipal. “É preciso divulgar o comércio tradicional como todas as outras terras fazem.” Aos 69 anos, José Júlio lembra que nem só do Natal se faz o negócio, para depois notar que nas comemorações do 11 de Novembro também “não acontece nada.” De portas abertas há 41 anos, a loja situa-se na Rua Almirante Gago Coutinho, próximo das artérias onde se encontram diversos bares. É por isso que hoje, aponta, as ruas do centro histórico são “o bairro alto”, com a vida nocturna torriense a causar alguns problemas literalmente à sua porta.

“Foi positivo. Como costumo dizer às minhas colegas, trabalhamos o ano inteiro para conseguir dar resposta ao cliente nesta época.” Liliana Cera, da Ourivesaria Artyjóia, traça um balanço positivo e não tem dúvidas: “as pessoas gostam de passear, gostam do comércio tradicional e gostam do atendimento. Acho que isso é o mais importante.” No entanto, a decoração também parece ter ficado aquém das expectativas. “Foi um pouco repetitivo em relação ao ano passado. Espero que este ano as ruas fiquem mais bonitas. Acho que é uma mais-valia para a cidade e para o comércio tradicional porque atrai clientes” explica, sublinhando que “Torres Vedras é uma cidade forte e acho que era positivo se houvesse mais iluminação. Acho que essa dinâmica era boa para todos.”
“Duas cidades dentro de uma cidade”
Apesar das vendas que caracterizam a época terem começado apenas três semanas antes do Natal (ao contrário do que acontecia noutros anos), também Hugo Dias, gerente da Ternuras de Miúdos, traça um balanço bastante positivo. É em pleno Shopping Center São Pedro que se encontra esta loja de artigos para bebés e crianças. “Onde estamos situados não existe Natal” afirma, em jeito de desabafo. “A Câmara pensa simplesmente em duas ou três ruas em Torres Vedras… Não posso estar contente.” O que poderia ser feito? “Iluminação, música, que em anos anteriores – bem anteriores – já tivemos. Faz lembrar o espírito natalício, que aqui não se nota. Temos duas cidades dentro de uma cidade.”
Deixando a Rua Dr. Carlos França para trás e subindo a Paiva de Andrade, encontramos outra das lojas mais antigas. José Santos abre as portas do Corte Ideal para contar que “apesar do frio, a época natalícia não atingiu os nossos objectivos. Estava à espera de um pouco mais.” Mas se há quem aponte baterias à Câmara Municipal, o gerente desta loja prefere destacar a actual situação política, que “talvez tenha levado as pessoas a não gastarem tanto com alguma preocupação em relação ao futuro.” A casa, bem no coração da cidade, não cresceu em relação ao mesmo período dos dois anos anteriores e José Santos reflecte sobre factores já apontados por outros comerciantes. “Talvez a Câmara não tenha feito o suficiente” diz, sobre a iluminação de Natal dinamizada pela Autarquia.

“Esta Árvore de Natal foi muito comentada, infelizmente mais pela negativa do que pela positiva” lembra. Afinal era ali, na Praça da República, que se encontrava a Árvore de Natal, desta vez feita de paletes de madeira reciclada. “Durante a noite acho que estava interessante, só que não tinha um ambiente em seu redor que ajudasse. Certamente que se esta praça seria mais atractiva se tivesse uma iluminação dourada a condizer com a árvore.” Isto porque, defende, “quando se via iluminada durante a noite e depois se chegava aqui de dia… era uma desilusão. Há ali qualquer coisa que falhou. Espero que possam melhorar, se esta árvore voltar à Praça.” Se por um lado o exemplo das Caldas da Rainha “tem apenas iluminação, não tem arte, é apenas um espaço enorme”, por outro, admite que “atrai as pessoas e isso para o comércio local é indispensável.”
Belchior Costa, sócio-gerente da Sapataria Caracol, traça um balanço equilibrado relativamente à mesmo época do ano anterior. E faz um exercício de auto-análise do sector em que se insere. “O problema está nos comerciantes que sempre foram e continuam a ser desunidos” lança. Na opinião de quem está à frente de uma das lojas que marcam a história de Torres Vedras, a solução pode passar por um “comércio aberto quase a 100%. Principalmente ao Sábado, com todo o tipo de comércio aberto durante todo o dia.” Abrir aos Domingos e Feriados durante os meses de Outubro, Novembro e Dezembro também seria uma opção. Algo que poderia resultar, sublinha, no caso de haver união entre os comerciantes.
“Cada qual puxa para seu lado. Com a idade que tenho e se não quisesse colaborar, no Sábado tinha fechado durante a tarde. Graças a Deus para mim chega. Mas no comércio tem de haver colaboração de todos ou então não há hipótese.” Belchior fala num caminho “muito estreito”, rumo a um horizonte incerto para a maioria dos comerciantes. “Não é fácil trabalhar assim. Por muito esforço que a Câmara faça, e louvo todo o esforço que tem feito, não é o suficiente caso os comerciantes não colaborem. E não têm colaborado.”