O Monumento do Carnaval pelas mãos da Creative Factory
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Ninguém lhe fica indiferente. Quem passa pela Praça da República, bem no centro da cidade de Torres Vedras, começa por um olhar desconfiado que acaba em gargalhadas despregadas. Depois, pára-se durante algum tempo em frente àquele que é o Monumento ao Carnaval de Torres Vedras deste ano e tenta-se decifrar o que por ali acontece.

Fazendo jus às “Figuras e Figurões”, tema que orienta a edição deste ano da festa torriense, a Creative Factory lançou-se ao desafio há muitos meses atrás. “O concurso foi aberto entre Agosto e Setembro e tivemos de entregar as ilustrações, uma parte de memória descritiva e as questões técnicas até finais de Outubro” explica Tiago Pombal, designer criativo e responsável pelo projecto de Carnaval da empresa torriense, que este ano ficou também responsável pela construção de três dos carros alegóricos que virão a desfilar nos habituais corsos carnavalescos. Foram cinco a seis semanas em que a equipa, maioritariamente composta por torrienses, desenvolveu e sustentou todo o processo criativo para o Carnaval mais português de Portugal, participando no concurso público aberto, pela primeira vez, pela Promotorres.

Poderia pensar-se que basta ser criativo, torriense e conhecer o tema do Carnaval para conseguir criar o cenário alegórico de luz e cor que percorre a cidade durante estes dias. “Parte sempre da nossa veia torriense. Basta estarmos um bocadinho ‘turmados’ daquilo que é o Carnaval de Torres e saber quais são as suas premissas que facilmente chegamos àquilo que devem ser as ideias dos carros e do Monumento.” A verdade é que tudo começa através de um briefing recebido pela equipa, que apresenta o tema de cada carro e as suas dimensões. “A partir desse momento fazemos uma espécie de sopa, não só através do briefing mas também a partir de todas as ideias que nós, enquanto equipa Creative, construímos para as propostas, quer dos carros, quer do Monumento.”

O Monumento do Carnaval pelas mãos da Creative Factory
Olha-se para o resultado de vários meses de trabalho, agora expostos no centro da cidade, e entende-se, de imediato, a vincada carga satírica que caracteriza o Carnaval de Torres Vedras, resultado de um autêntico trabalho contra o tempo. “Nesse handicap que existe entre a entrega das ilustrações, aprovação das mesmas e a entrega final dos carros há um espaço temporal em que tudo acontece” explica o designer em conversa bem perto do Monumento, na altura rodeado por várias dezenas de transeuntes que o observavam, curiosos. Eleições Legislativas e Presidenciais, e ainda as mudanças na Câmara Municipal de Torres Vedras foram alguns dos acontecimentos que levaram a mudanças no plano da equipa. “Nós enquanto fábrica, e a própria Creative no seu núcleo de criativos, temos de ter um trabalho reforçado para fazer com que os carros estejam super actualizados quando estão concluídos e são entregues.”

Tiago Pombal explica ao Torres Vedras Web que não não há “nada melhor para resumir as Figuras e Figurões do que a criação de uma gala que reúne as maiores figurinhas e figurões da política nacional e internacional, do desporto, do nosso país e do mundo, e onde também estão as figuras da nossa cidade.” A história remonta ao imaginário da emblemática gala nacional dos Globos de Ouro e, ainda, às galas hollywoodescas de entrega dos Óscares. Como não poderia deixar de ser, em Torres Vedras “o Óscar central é o Povinho, aquela figura que toda a gente quer ter na mão e em torno da qual se desenvolve toda a história deste Monumento.” Durante o processo de criação, a equipa não esqueceu que esta é uma “peça-âncora do Carnaval de Torres e de toda a parte alegórica.” Daí o entendimento de que também o conceito assuma a mesma importância, e se concentrem aqui todas as energias dos cerca de 40 profissionais envolvidos no projecto.

Desde os primeiros esboços, em papel, ao regresso do Monumento e dos carros alegóricos ao estaleiro municipal vai um longo processo que, na sua vertente prática, arranca com o trabalho dos escultores da empresa. “São uma peça fundamental em todo o Carnaval.” Hoje o trabalho em escultura é apoiado por máquinas de corte, uma tecnologia que facilita o processo e permite poupar algum tempo útil, fazendo com que tudo esteja pronto a horas da festa.

Depois do trabalho esculpido, os fibradores aplicam a fibra de vidro, “material utilizado para dar uma qualidade tremenda à parte alegórica do Carnaval de Torres” e que o diferencia das restantes comemorações carnavalescas que acontecem no resto do país. Já nos acabamentos, as peças são acabadas e betumadas, de onde seguem para a secção de serralharia, que lhes aplica uma estrutura em ferro por dentro, “para dar consistência à figura.” De volta aos acabamentos, “a bonecada” prepara-se para receber os retoques finais que nos saltam agora à vista em pleno centro da cidade torriense. É ali que se “vão buscar, por exemplo, os brilhos dos olhos e a cor do cabelo.” Tiago Pombal não esquece que este trabalho é feito a par de um gabinete de design, e sublinha o papel da administração e da produção da Creative Factory. “São a cola de todo este processo, no qual há uma congregação de energias fantástica de toda a equipa que faz este Carnaval.”

Ao contrário do que acontece com os carros alegóricos, o Monumento ao Carnaval não é construído no estaleiro municipal, mas sim nas instalações da fábrica da Creative Factory. Foi de lá que saiu, rumo à Praça da República, dividido em sete partes distintas – uma vez que é construído de forma modular. Já no local onde vai permanecer durante o Carnaval, na confluência das ruas Serpa Pinto, Paiva de Andrade e Avenida 5 de Outubro, demorou cinco dias até estar completamente montado. “Os bonecos estão lá, mas demoraram muito tempo até lá chegar. Foi um trabalho duro” assume, enquanto salienta o papel de quem também permite que tudo isto aconteça. “Isto em estreita cooperação com todos os elementos da equipa e de todas as empresas que colaboram connosco, nas gruas, na parte do transporte… E, sobretudo, o trabalho essencial da Câmara Municipal que dá todo o apoio necessário ao nível da logística e da segurança para que este trabalho decorra sem qualquer tipo de problema.”

Por trás das figuras caricaturadas que povoam aquele ponto da cidade estão quantidades inimagináveis dos mais variados materiais. Esferovite, poliuretano, metal, resinas, tintas, massas para betumar, carpetes e parafusos são alguns dos elementos que estão por trás desta Gala de Figuras e Figurões, apresentada pelo incontornável Manuel Luís Goucha – que também já passou pela cidade para visitar a sua “figurinha”… O impacto tem sido, por isso, muito positivo, “não só a nível da comunicação e do impacto dos media mas também, sendo esse o nosso principal objectivo, junto da comunidade e dos foliões.”

O Monumento do Carnaval pelas mãos da Creative Factory
E se as figuras do nortenho Emplastro, do apresentador Manuel Luís Goucha e do ditador António de Oliveira Salazar foram das mais difíceis de caricaturar, o certo é que “não houve nenhum bicho de sete cabeças” para esta equipa, que nunca chegou a montar o Monumento por inteiro antes de este ser montado na Praça da República. “É um resultado fantástico quando temos a equipa a sobrepor peça a peça, escada sobre escada, a colocar o Zé Povinho no centro. Aí é que conseguimos ver, finalmente, qual é o resultado final de meses de trabalho. É fantástico.” Para que tudo corresse bem, Tiago Pombal aponta factores como as medições milimétricas que tiveram de ser feitas, o respeito pelo trabalho de ilustração e o espírito de equipa que existe na Creative Factory.

Mas, como tudo neste Carnaval torriense, a montagem do Monumento não podia deixar de ter uma história caricata. “Tínhamos a plataforma, a grua, a barquinha, o camião com as figuras em cima, estava tudo preparado para começar a erguer os bonecos de José Sócrates e do homem das pizas até ao topo do hotel. Se não quando temos a informação de que o quarto no qual ia ser colocada a base para os bonecos tinha acabado de ser ocupado (risos).” Com a estrada cortada e a grua a trabalhar, a equipa da Creative ficou “com o coração nas mãos.” Foi aí que a gerência do hotel “teve um diálogo com o casal que tinha alugado o quarto, ao qual eles responderam ‘Nós somos da Madeira, sabemos bem o que é o Carnaval, por isso estão à vontade” conta o designer entre risos.

O que vemos no Monumento ao Carnaval – tal como o que veremos durante os corsos carnavalesco – é reflexo do trabalho de uma equipa que vê o Carnaval de Torres como “uma parte da sua própria história, da sua intenção e da sua razão de existir.” Tiago Pombal explica ao Torres Vedras Web que se trata de uma equipa onde há “um cruzamento de gerações fantástico, onde a sabedoria de uns verte para outros e vice-versa.” As características intrínsecas a este trabalho tão especial, e que faz o gosto ao dedo a esta equipa de torrienses, também explicam o sucesso do projecto. “O trabalho de escultura, de serralharia, de acabamentos e de pintura do Carnaval não se assemelha a outro tipo de trabalho.”

O trabalho da Creative Factory, o processo de construção que desenvolve e a tecnologia que aplica estão expostos nesta “montra” que arrancou com a inauguração do Monumento. “O Carnaval de Torres potencializou a possibilidade desta indústria mostrar o seu trabalho.” Dia 10, Quarta-Feira do Entrudo, julga-se o Rei em frente ao Tribunal. É tempo de voltar tudo ao estaleiro. Quanto à equipa da Creative Factory, Tiago Pombal não tem dúvidas. “Desmanchamos tudo e já estamos a pensar no próximo. Sem sombra de dúvida.”

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Rita Alves dos Santos
Jornalista. Natural de Torres Vedras. Licenciada em Ciências da Cultura na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Pós-Graduada em Jornalismo Multiplataforma. Mestranda em Jornalismo da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

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