
É extensa a definição de design, culpa dos diversos territórios de atuação que foi conquistando ao longo dos anos, mas se fosse a utilizar uma definição simples, utilizaria a de George Nelson, designer industrial americano, que o caracteriza como «uma manifestação da capacidade do espírito humano para transcender as suas limitações». Pessoalmente, e de uma forma menos ortodoxa, encaro o design como uma caixa de ferramentas, que transporta a idealização, a experimentação, a concepção, a estratégia, a técnica, a criatividade, a comunicação, entre tantas outras ferramentas, atuando sobre as mais diversas oportunidades e desafios que surgem no seu caminho.
O Oeste poderá ter muito a ganhar com um trabalho de fundo junto desta disciplina, sem dúvida. O design poderá ocupar um espaço bastante importante na potencialização das características deste território, onde podem ficar visíveis as mais-valias do design aplicado ao ambiente, à indústria, à sustentabilidade, à cultura, às novas tecnologias, ao turismo, à terra, ao mar e à sua gente.
Ajudar na exportação de uma identidade regional potencializando os seus produtos e produtores, numa região de vinho, de frutas, de cerâmica, de praias, de história, onde se “arregaçam as mangas e se põem as mãos na terra”, uma tendência que também é cada vez mais dos designers que
há muito deixaram de definir as suas cadeiras e secretárias como tronos.
Falando de bons exemplos, e por falar também em produtos e produtores, temos o caso do LX Rural, um mercado de produtores do oeste que acontece todos os domingos num dos maiores polos criativos de Lisboa, o LX Factory. São dezenas as bancadas espalhadas por esta vila criativa, onde está explicito o sucesso de uma estratégia que vai muito além da comunicação e da produção. De forma objectiva, reinventa-se a ideia de mercado tradicional quebrando as fronteiras que normalmente existem em deixar que a criatividade trabalhe na promoção de determinados produtos ou entidades, por mais rurais que sejam, como é o caso.
É neste cruzamento de “improváveis” que na maior parte das vezes surgem os projetos de sucesso, não sendo esse o objectivo mas a consequência de um trabalho bem feito.
Não dá para falar de sucesso no Oeste sem falar da Bordalo Pinheiro. Desde que foi salva da falência em 2009 pelas mãos da Visabeira, só tem somado pontos. Nuno Barra, diretor de marketing e design externo da Bordalo Pinheiro, refere várias vezes e bem, o quão importante foi o investimento interno e externo na fábrica e na marca. Importa referir que não passou só por uma injeção de capital mas também por um reposicionamento estratégico no qual o design assumiu um papel preponderante nesse novo salto que a Bordalo Pinheiro estava a dar.
Soube reinventar-se. Hoje, é um dos embaixadores do design e da cerâmica portugueses, o que nem sempre é fácil visto que projetos como este, que transportam consigo um elevado valor histórico e cultural, facilmente caem no erro de desvirtuar a sua identidade e perder força, ao quererem fazer mais e melhor, o que não foi o caso.
Na defesa da nossa identidade, não regional mas nacional, porque também é importante pensar em outras escalas, temos o exemplo da Experimentadesign e do sucesso que foi a colaboração com a Corticeira Amorim, onde se reinventou a cortiça através da reflexão e pesquisa de um grupo internacional de designers e arquitetos, levando esta matéria bem portuguesa e as suas potencialidades além-fronteiras. Escusado será dizer que deste projecto não saíram nem os porta-chaves e muitos menos as canetas forradas a cortiça que enchem as gift shops do nosso país, felizmente…
Ainda esta semana chegou a boa nova de que a Experimentadesign vai ser também responsável pela estratégia de comunicação e posicionamento do cluster da Pedra Portuguesa, liderado pela Assimagra. Ambas as estratégias assentam na disciplina do design, e mais do que isso, no pensamento e na reflexão de designers e arquitectos, mais acima de tudo de pessoas,
porque é importante salientar a escala humana como ponto de partida para todos estes projetos.
Olhando para cima vejo que a palavra-chave nesta espécie de cronica é “reinventar”, talvez influenciado pelo Changes do David Bowie que por aqui vou ouvindo. Admito que já foi uma palavra motivo de longas conversas entre amigos, a beber um bom moscatel. Quem sabe, não é uma palavra reflexo de um sentimento de esperança num dos territórios com mais potencial criativo do nosso país.
Excelente. “cheira-me” que se avizinham novos ventos para o lado do Oeste. Parabéns Tiago