Paulo Almeida, o torreense que vai pedalar de Valência a Santa Cruz
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Mais de 30 horas em cima de uma bicicleta para percorrer quase 1000 quilómetros. Até podia ser uma cena retirada de um filme de aventura, mas é mesmo um episódio da vida real. “Não chamo a isto aventura. É um desafio… Uma superação constante.” Paulo Almeida, torreense de gema, parte hoje para Valência, a cidade espanhola onde terá início um percurso que visa unir o Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico. “Na semana passada pus-me a olhar para o mapa e a pensar o que é que podia fazer” conta, entre risos, ao Torres Vedras Web.

“É uma coisa com alguma dificuldade extra, porque vão ser no mínimo 33 horas a pedalar.” Quando perguntamos em que se pensa durante tantas horas a pedalar, a resposta chega entre risos e em jeito de desabafo. “Em tudo. Acabo por deixar de ter conversa para mim.” Com a ajuda de um sistema de navegação que lhe permitirá percorrer as estradas espanholas, Paulo prepara-se para uma viagem non-stop que ronda os 978 quilómetros até chegar a Santa Cruz. A chegada está prevista para Sábado, entre as 15 e as 17 horas, esperando-se que os amantes do ciclismo acompanhem os últimos quilómetros deste percurso. “Facilmente atingirá os 1000. Mas não queria lá chegar, porque passando essa distância, a fasquia já vai ter de ser outra coisa maior.” Uma fasquia que já está na cabeça de quem vive “sempre em busca da superação, todos os dias.”

Tal como no atletismo, as longas distâncias pressupõem uma vasta e atempada preparação física. Algo que não acontece no caso deste torreense, que confessa não praticar nenhum treino específico em véspera de provas tão duras. “Tenho consciência de que estou preparado, tenho disponibilidade física. A preparação que considero mais importante é a mental. Depois o físico… É para sofrer.” O treino, praticamente diário, ronda as 18 horas semanais, com ou sem uma nova aventura pela frente. Mas Paulo não nega as dificuldades que se sentem em viagens como esta. “É impossível, por mais bem preparado que se esteja, fazer 30 horas numa bicicleta sem sofrer. O que manda é a cabeça, porque o corpo já está a pedir para parar.”

Paulo Almeida, o torreense que vai pedalar de Valência a Santa Cruz
O percurso, de 978,4 km, conta com 9.721 m de ganho de elevação.

2016, ano de desafios

“Um dia surgiu-me a ideia de fazer uma coisa mais ousada. Temos de ter a ousadia de fazer coisas diferentes, se não somos só mais um!” Paulo Almeida parece sintetizar, numa frase, o que orienta a sua vida. É que se “tudo começou com o gosto de pedalar com os amigos” rapidamente começou a evoluir. “Houve um dia em que pensei ‘vou a Badajoz!’. E meti a mochila às costas, saí de Torres sozinho, fui a Badajoz e voltei.” Uma viagem que começou às cinco da manhã e que terminou bem perto da meia-noite. “Assim que vi a placa de Torres foi uma sensação de conquista, de desafio superado. E acaba por deixar um bichinho de tentar superar.”

Com o objectivo de aliar um significado “extra” às centenas de quilómetros que percorre, seguiu-se o trajecto até à Serra da Estrela. Com partida, mais uma vez, às cinco da manhã, o atleta conta que não teve “coragem para voltar para casa de carro” e fez o regresso ao Oeste em cima das duas rodas. Uma jornada de 600 quilómetros em 25 horas, a que se seguiu a ida à Torre e ao Santuário de Nossa Senhora da Graça, lembrando as míticas chegadas da Volta a Portugal. “Ninguém me propôs, sou eu que proponho a mim próprio. É um desafio pessoal” salvaguarda, para lembrar o apoio constante de Hélder Miranda, treinador.

“Estou em casa, abro o computador e procuro no Google Maps.” Parece ser assim que começam os desafios à resistência e superação deste atleta, que procura incessantemente ultrapassar a próxima barreira. A última consistiu em percorrer a Estrada Nacional 2, que une Chaves a Faro. 730 quilómetros sem parar que marcaram o final de Setembro e que abriam o apetite para algo ainda maior. “Acaba por ser um vício. Naquela meia hora seguinte nem se pode ver a bicicleta, mas passada uma hora começa-se a recuperar as energias.” Uma verdadeira ultra-maratona que também põe à prova a resistência psicológica. “A dor é o corpo a querer desistir primeiro que o cérebro” resume.

Paulo Almeida, o torreense que vai pedalar de Valência a Santa Cruz
Paulo Almeida percorreu a mítica Estrada Nacional 2, a mais extensa no país.

As conquistas dos últimos cinco meses “vão trazendo muitas motivações extra, os amigos, as pessoas que me seguem nas redes sociais e que me dão algum incentivo. No fundo, o que me faz andar é a superação.” E se todos parecem esperar pela superação da barreira dos 1000 quilómetros, o objectivo parece já estar desenhado no horizonte de Paulo. “Sei que o record do mundo não é muito além daquilo que vou fazer. Bater o Record do Guinness é um desafio que eu gostava de pensar seriamente, se conseguir arranjar apoios para tal.” Uma marca que ronda os 1000 quilómetros e que pode oscilar consoante diversas variáveis.

“Fico contente pelas pessoas que me tomam como incentivo e como inspiração.” Curiosos, ciclistas e amantes de longas distâncias que procuram conselhos para atingir o mesmo objectivo. “Quando me pedem algumas dicas, eu digo: sabes que vais iniciar e vais ter de chegar. Seja debaixo da bicicleta, seja em cima, ou com ela de rojo… Vais ter de chegar ao fim e ponto final.” Para cumprir os desafios a que se propõe, Paulo não esquece o apoio de parceiros como a Westbike, a Euphoric Challenges, a + WHATT, a Pizzaria Dose, o Licor 35 e a Cofides. “Seja no ciclismo seja na nossa vida quotidiana, o objectivo é superar-mo-nos. Penso que é isso que nos leva a ser cada vez melhores.”

 

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