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“Um filho de emigrante que luta pela positividade da vida, que quer alcançar coisas boas e que quer tentar mudar o espírito das pessoas.” É assim que David dos Santos, 32 anos, se apresenta. Encontrá-mo-lo de sorriso no rosto e de braços abertos para falar de um caminho que trilha de sucesso em sucesso, e que mostra como “tudo é possível”. O jovem português nasceu na Bélgica, mas havia de voltar a este país “à beira-mar plantado” com uma criação de sucesso no bolso: a Diabólica, uma espécie de corneta que já correu o mundo (e que, em Torres Vedras, se popularizou através das Matrafónicas).

Cedo a mãe saia de casa, em Tarouca, distrito de Viseu, “para tentar ajudar a família.” “Não tinha futuro garantido em Portugal” e, por isso, partiu para a Bélgica. “Queria retribuir ao máximo esse sacrifício que fizeram, fazendo coisas boas e grandes para ajudar” conta David. Partindo do princípio de que “numa vida as pessoas trabalham até aos 65 anos e quando chega o momento de poderem aproveitá-la, quase todos morrem”, o jovem empreendedor decidiu acabar os estudos e explica como fez, literalmente, contas à vida. “Fiz os cálculos todos do que se podia ganhar em pouco tempo se as coisas corressem bem, porque queria aproveitar a vida aos 35 e não aos 65. Por isso é que, muito cedo, lutei para trabalhar por conta própria e ser independente quanto ao meu destino” o que fez com que, aos 20 anos, abrisse uma loja de roupa.

“Queria ser o piloto do meu avião, aterrar e voar quando quisesse. Quando uma pessoa é independente luta mais pelo seu destino, mete objectivos na cabeça, só depende de si própria. Assim pode alcançar coisas boas”, conclui. “A Gaiola Dourada é exactamente a história dos meus pais: deram a vida deles para os seus patrões e nunca os querem largar” explica, remetendo para o filme português de sucesso de Ruben Alves. O homem para quem trabalham é Aldo Vastapane, multimilionário belga de origem italiana, hoje com 90 anos. David fala da perda do pai como “um choque psicológico muito grande” e agora assume a missão de trazer a mãe e o padrasto para Portugal. “Estou a fazer tudo para que eles tenham cá uma actividade depois de voltarem.”

Com a vida e o trabalho divididos entre Portugal e a Bélgica, David – que agora reside em Campelos – não nega que nota “uma enorme diferença entre os portugueses de lá e de cá. Para o estrangeiro, o português luta e dá a vida. Se vier um estrangeiro a Portugal, fazemos o máximo para ajudar e para que saia com uma boa imagem do país.” No entanto, repara num clima de desunião e aponta “um povo muito rendido ao que acontece, muito tranquilo.” A solução parece ser simples e está na ponta da língua. “Quando se quer alguma coisa, tudo se pode. Sorte não existe, provoca-se. É como uma equipa de futebol, se não chutar à baliza nunca marca golo.”

"Queria ser o piloto do meu avião, aterrar e voar quando quisesse." A história de David Santos, o criador da Diabólica.
As Diabólicas estão no mundo do futebol, do basquetebol, do hóquei no gelo e até em protestos e manifestações. Foto: Mickael Dramaix

A Diabólica, uma espécie de corneta que produz um som de 98 decibéis, entrou na vida de David dos Santos há cerca de sete anos e, como faz questão de sublinhar, “não tem nada a ver com a vuvuzela.” Tudo começou porque “era adepto de futebol e as buzinas de gás eram interditas dos estádios por risco de explosão.” O facto de ser amante deste desporto aliou-se ao desejo de criar, para esse propósito, algo ecológico. “E pensei: vou procurar algo que possa fazer barulho como uma buzina de gás, mas sem gás.” Começava assim um projecto que partilhava com o sócio e designer Fabio Lavalle e que viria ganhar dimensões inesperadas.

“Pensei no som do pássaro, que tem uma membrana vocal que através da vibração faz o assobio. Procurámos várias matérias, e foram dois ou três anos de vários testes até encontrar o material especial que com a vibração produz aquele som.” Estávamos em 2014 e a selecção Belga de futebol qualificava-se para o Campeonato do Mundo do Brasil (o que não acontecia há 12 anos). “Pensámos que era o momento ideal para lançar o produto” e, por isso, lançaram um concurso nas redes sociais para que os adeptos escolhessem o nome “do objecto que vai ser sensação no Mundial e que vai fazer falar dos belgas no Brasil.” Diabólica remete-nos, por isso, para o universo dos Diabos Vermelhos, nome por que é reconhecida a formação da Bélgica.

“Aventura Diabólica”

Começaram por produzir 3000 destas buzinas, mas rapidamente perceberam que o sucesso não os deixava ficar por ali. “O nosso objectivo era, simplesmente, que falassem de uma invenção belga no Brasil. Mas foi muito mais do que isso, foi um sucesso mundial” destaca, falando no interesse que o aspecto ecológico suscitou um pouco por todo o mundo e que fez surgir encomendas de 26 países diferentes. “Em seis meses vendemos mais de um milhão de Diabólicas pelo mundo.”

“Compararam-me muito ao Steve Jobs” conta, enquanto explica as etapas que marcaram o arranque deste projecto. Perante um orçamento de 1500 euros apresentado por uma empresa de embalamento, a solução pareceu simples para este jovem empreendedor: as primeiras 15 mil encomendas foram embaladas pela família no salão de casa que, rapidamente, começou a ser pequeno. Do salão passaram para a garagem, onde reuniam dez pessoas a embalar, e agora ocupam um armazém com cerca de 1000 metros quadrados, onde é embalado o produto que hoje é 100% feito entre Espanha e Portugal.

“Rapidamente, o sucesso da nossa ideia deu-nos a ambição de querer trocar as buzinas de gás do mundo inteiro por Diabólicas.” E hoje, de facto, estas pequenas buzinas de ar estão presentes nos festejos desportivos nos vários cantos de mundo, mas também em formas de protesto como manifestações. “A Diabólica é um produto de festa, não é para incomodar pessoas. A ideia é poder festejar sem estragar o planeta, porque as buzinas de gás eram muito más para o meio-ambiente.” Ao contrário do que estávamos habituados, a palavra Diabólica passa a ser “sinónimo de festa” e comemoração em todo o mundo, e já ultrapassa os dois milhões e meio de exemplares.

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