“Às armas, às armas! Pela Pátria lutar! Contra os canhões marchar, marchar!” Foi de cravo ao peito que a Praça do Município se encheu para ouvir “A Portuguesa” pela Banda de Música da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras. O momento simbólico antecedeu o arranque da Sessão Solene comemorativa dos 42 anos do 25 de Abril que decorreu esta manhã nos Paços do Concelho.
A manhã ficou marcada pela homenagem a Alberto Avelino e José Fernandes, os dois torrienses que integraram a Assembleia Constituinte que lavrou a Constituição da República Portuguesa – e que, pelas comemorações dos 40 anos da Lei Fundamental, receberam o título de deputados honorários da Assembleia da República. “Há 40 anos tivemos uma espécie de ‘bíblia’, de caderno de encargos perante o povo português” apontou Alberto Avelino. “Também foi com algum sonho que se conseguiu fazer o 25 de Abril” avançou, caracterizando o momento histórico como “a revolução mais democrática no sentido mais moderno da palavra.” Coube ao Presidente da Assembleia Municipal dirigir a cerimónia, que contou com a presença dos deputados municipais, de associações locais e de dezenas de torrienses que quiseram participar neste acto solene.
Carlos Bernardes, Presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, destacou que “Abril trouxe-nos a nossa ‘magnânime’ Constituição” e lembrou um episódio ocorrido na época. “Tinha seis anos e vivia em Caneças. A minha Mãe ouviu no rádio que ia começar a guerra e começou a chorar porque o meu Pai estava a trabalhar em Lisboa. E eu disse-lhe: Mãe, não vai haver guerra.” O autarca percorreu o trabalho desenvolvido pela autarquia durante o último ano em áreas como cultura, desenvolvimento social, educação e equipamentos, e aproveitou para recordar a inauguração dos serviços sociais do Estaleiro Municipal, no próximo 1 de Maio, e a construção da pista de atletismo da Paúl. “O que era deste país se não fosse o Poder Local democrático?”
“Quero, por Abril, deixar a minha justa homenagem a todos os torrienses que lutaram por nós.” Francisco Martins, Presidente da Freguesia de Santa Maria, São Pedro e Matacães, fez a primeira de várias referências aos torrienses que lutaram contra o fascismo de António de Oliveira Salazar e Marcelo Caetano. “Não se pense que não existiu sofrimento neste processo. Ele existiu e ficou bem marcado em todos os que viveram aquele período da ditadura.” Francisco Martins lembrou ainda que “a liberdade não é um dado adquirido, tem de ser conquistada todos os dias” e defendeu que “vivemos hoje aquilo que eu considero ser uma nova ditadura, a ditadura dos mercados e do poder financeiro.”
António Miranda, do CDS-PP, foi o primeiro representante dos partidos políticos a subir ao palanque, e considerou que, “passados 42 anos, tantas oportunidades perdidas” apontando a justiça como “um dos pilares que mais nos desiludiu.” E lançou a questão: “que país pode ser justo quando o sistema não funciona de igual maneira para todos os cidadãos?” Falou num 25 de Abril “sem dono, sem tutelas e sem superioridades morais” e viria a ter resposta por parte de Joaquim Gomes, do PCP. “Esquecem-se de um pormenor deveras importante: é que durante os 48 anos do fascismo, houve sempre quem lutasse contra ele, com o sacrifício por vezes da própria vida, e outros houve que nada fizeram para o extinguir.” O comunista defendeu ainda que “a revolução de Abril não pode nem deve ser estática”, afirmando que “ainda temos muitos quilómetros de Abril por cumprir.”
“A nossa democracia cumpre-se todos os dias, melhorando o nosso bem-estar e a nossa situação económica e social” sublinhou António Moreira, do Movimento Torres nas Linhas. No entanto, salientou que se trata de uma tarefa que “nunca estará concluída enquanto tivermos entre nós um português desempregado ou uma criança a dirigir-se para a sua escola em jejum.” O membro da Assembleia Municipal considerou que “felizmente no nosso concelho esta situação, não estando resolvida, não é dramática.”
“A desejada escola para todos ainda não foi atingida na sua plenitude” analisou Secundino Oliveira, do PSD, que traçou uma análise à Educação desde 1974 até aos dias de hoje. O social-democrata lançou críticas à medida do Governo de António Costa que terminou com os exames nacionais nos 4º e 6º anos, e defendeu que “é necessário um pacto educativo entre todas as forças políticas.” Já Susana Neves, do PS, teceu várias críticas ao anterior Governo de Passos Coelho e Paulo Portas, e defendeu que o Governo Socialista “respeita o ser humano. É um Governo de esperança.” Entre várias questões que colocou ao longo da sua intervenção, lançou. “Onde paira a nobreza dos valores do 25 de Abril?”