Susana Félix na final do Festival das Vindimas.
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Saiu de Torres Vedras aos 19 anos, rumando a Lisboa para abraçar a vida artística que escolhera. Agora, está de regresso à cidade torreense, onde actua dia 12 de Novembro na final do Festival das Vindimas, que encerra a programação das Festas da Cidade. Susana Félix reconhece que este é um concerto “diferente” e “especial” para pessoas que conhece bem. “São pessoas com quem eu partilhei a vida durante tanto tempo. E fico sempre um bocadinho mais nervosa quando conheço a plateia” assume. “É como fazer um espectáculo para a família. É voltar a casa.” A cantora abre a cortina para contar que o concerto “vai visitar uma série de músicas conhecidas, que fazem parte do meu universo e que acabaram por se tornar o universo também de outras pessoas.” Uma viagem pelos últimos anos de carreira, que deixa prever uma noite a uma só voz. “Vai ser um concerto bom de ouvir e de cantar.”

Tal como o palco do Pavilhão Multiusos, também os palcos onde tudo começou eram torreenses. “Foi um convite que a Lucilina me fez há muito tempo, tinha uns 10 anos, para fazer uma festa de Natal para a terceira idade no pavilhão da Física.” Recorda “uma mega produção cheia de artistas e com aquele recinto completamente lotado.” Seguiu-se a entrada no Grémio Artístico Torreense e, no mesmo ano, a conquista da Grande Noite do Fado no Coliseu dos Recreios. “A partir daí nunca mais parei. As coisas foram surgindo naturalmente, espectáculo após espectáculo, até hoje.” Um percurso de sucesso que parece nunca satisfazer, por completo, a cantora. “Não tenho muita facilidade em olhar para a minha carreira de uma forma distante porque é a minha vida. Às vezes precisava de ter essa noção, até para descansar um bocadinho e não ter aquela sensação de que estão sempre coisas por fazer.”

Com um trabalho que deverá sair no início do ano, o momento é de criação. “Estou naquela fase de compor e fazer canções, que é uma fase de laboratório, até de alguma solidão, de estar no meu canto a escrever e a compor para depois gravar.” Um processo que “coincidiu com o facto de ter voltado para Torres. Isto de voltar a casa dá-nos uma sensação e um estado de espírito diferente, e acho que isso vai-se reflectir nas canções.” Perante um trabalho de criatividade que é cativante, Susana Félix assume que também se trata de um desafio. “Quando estamos sentados com uma folha branca à frente às vezes é difícil dar-mo-nos a essa liberdade de poder ser tudo.” Depois, explica, “todo esse trabalho de composição é passado para os músicos e para quem vai fazer os arranjos” para então as canções serem apresentadas ao vivo.

Susana Félix na final do Festival das Vindimas. "É como fazer um espectáculo para a família"
O Torres Vedras Web esteve à conversa com Susana Félix na esplanada do Momentvm Lifestyle.

“Sou uma pessoa essencialmente criativa e a música foi a linguagem que eu escolhi como minha linguagem de eleição.” Uma forma de comunicação que se insere num contexto cada vez mais diferente do que se viveu durante muitos anos. “A indústria mudou radicalmente, já não são as editoras que investem nos músicos. Todo esse esquema que funcionou durante décadas deixou de existir totalmente.” Mas Susana Félix prefere olhar para os frutos que parecem resultar destas mudanças. “Esta travessia no deserto fez com que a qualidade aumentasse, porque as pessoas que fazem música em Portugal são pessoas que têm essa vocação. E isso faz com que, em várias faixas da música portuguesa, haja projectos absolutamente incríveis.”

E se a indústria já não tinha por onde crescer devido às condicionantes geográficas do país, a artista aponta, ainda, a falta de reconhecimento do trabalho musical. “Nós, portugueses, não temos esse carinho absoluto pelos artistas. Não é como em Espanha, que toda a gente ouve música espanhola e em castelhano em qualquer parte do país.” No entanto, salienta que o reconhecimento além fronteiras não pára de crescer. “Estou a falar dos músicos, do reconhecimento dos pares” em países como o Brasil ou França. “Neste momento isso acontece em qualquer parte do mundo. Talvez por causa dessa exigência demasiada que o país tem sobre a música que se faz em Portugal.” “Jardim de Inverno” é a música que nos vem à cabeça, o dueto entre a torreense e Pierre Aderne, cantor e compositor franco-brasileiro.

“Continuo a desejar aquilo que desejava há dez anos: continuar a fazer o que faço hoje, mas melhor.” É assim que Susana Félix olha para o futuro, com o sorriso no rosto que a caracteriza à volta de uma mesa onde a conversa se faz naquele que parece já ser o Verão de São Martinho. “Porque se continuar a fazer o que faço é sinal de que as pessoas continuam a gostar e a querer ouvir. E querer fazer melhor é a minha motivação para a vida” explica, para depois terminar entre risos. “Porque no dia em que achar que já fiz aquele disco incrível e espectacular, vou deixar de ter vontade de fazer outro.”

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Rita Alves dos Santos
Jornalista. Natural de Torres Vedras. Licenciada em Ciências da Cultura na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Pós-Graduada em Jornalismo Multiplataforma. Mestranda em Jornalismo da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

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