Tiago Pombal
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Erguem-se os andaimes nos jardins de Santiago, estendem-se os pincéis e as trinchas, a quantidade de material necessário para a pintura primaveril de uma fachada mas que não faz jus ao que ali se constrói por estes dias.

Desapareceram os touros vermelhos e mais uns quantos tags que por ali existiam. As atenções centram-se no “grafiteiro” Jota Aracê, que a convite do programa Arte ao Centro tem saltado de andaime em andaime, entre a chuva e o sol, construindo ao ritmo que a meteorologia lhe tem permitido o mural que tem dado que falar.

A admiração é geral e por vários motivos, entre eles, o facto de alguém estar finalmente a “grafitar” as fachadas devolutas que criam o perímetro daquele parque de estacionamento em pleno centro histórico. Um espaço cobiçado por diversos artistas ao longo do tempo mas que, por um motivo ou por outro, poucas foram as oportunidades dos mesmos poderem intervir. Até se pode perceber o porquê, sendo uma intervenção deste género e com esta escala um risco, dadas as fortes restrições que existem ao erguer projetos como este nos centros históricos do nosso país, de forma a não permitir que o património edificado dos mesmos seja desvirtuado.

É aí que encontramos o verdadeiro valor desta intervenção.

Mais do que um mural, que não desvirtua coisa alguma, esta intervenção rompe fronteiras e quebra barreiras, abrindo um novo paradigma na utilização do espaço público da nossa cidade, do nosso centro histórico.

Mostra-nos que afinal é possível serem criados novos pontos de atração neste território, através de abordagens inovadoras e fresh. Intervenções que são cada vez mais uma ferramenta essencial na construção de novas pontes de ligação entre as pessoas e o património material e imaterial das cidades onde habitam, uma aspiração para as gerações mais novas, um legado que fica para as futuras. Curiosamente, decorre em paralelo o Muro 2016 no Bairro Padre Cruz, o maior Festival de Arte Urbana de Lisboa e que reforça precisamente esta ideia, destacando-se este ano pelo elevado
número de atividades pedagógicas integradas no seu programa e abertas ao público, mostrando uma vez mais o potencial das artes plásticas aplicadas a contextos de desenvolvimento social.

Esperemos que a intervenção do Jota não fique por aqui e não corra os mesmos riscos que a intervenção do seu vizinho da frente, Vhils, tendo sido referenciada o ano passado num canal televisivo inglês como uma das obras de um dos melhores artistas plásticos da sua geração, alegrando diariamente o centro histórico da cidade de Lisboa… Depois de criar é preciso divulgar, cuidar e manter, mostrar que foi feito cá, bem e que é nosso!

Entretanto, lá se vai vislumbrando um pouco mais o resultado final da intervenção do Jota, na certeza de que não estando ainda concluído e não sabendo nós se já vai a mais de metade, pelo seu processo e irreverência já é um projecto ganho e de sucesso, com certeza.

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