Covid-19: Equipa de intervenção comunitária leva cuidados e afetos a casa dos doentes
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Oito enfermeiras prestam cuidados de saúde domiciliários a utentes das Caldas da Rainha e Óbidos no âmbito de um projeto de apoio à comunidade que em tempo de pandemia se faz com cuidados redobrados e saudades de um abraço.

Maria José Guedes integra desde o início a equipa multidisciplinar da Unidade de Cuidados à Comunidade (UCC) que desde 2014 presta cuidados de saúde e apoio psicológico e social de âmbito comunitário a famílias dos concelhos das Caldas da Rainha e Óbidos, no distrito de Leiria.

Em seis anos passaram-lhe pelas mãos desde doentes em pós-operatório, que viu recuperar, a doentes crónicos que viu morrer. Mas pela primeira vez “é a saudade de um abraço, de um toque ou de um sorriso” o que mais a angustia na relação com os doentes e as famílias.

O afastamento físico imposto pelo novo coronavírus é “a principal mudança” num serviço marcado pela proximidade entre as oitos enfermeiras, fisioterapeutas e técnicos de ação social que acompanham os doentes e as famílias.

A equipa faz intervenção comunitária em grupos tão diversos como crianças e jovens em risco, idosos ou populações vulneráveis, não apenas na prestação de cuidados de saúde, mas também na saúde escolar, na promoção do bem-estar, na saúde de mental e no apoio social e emocional.

Maria José faz parte da equipa de cuidados continuados que apoia no domicílio 24 doentes e as respetivas famílias das quais, diz, as enfermeiras acabam “por fazer parte”.

“Cada caso é um caso, tratado de acordo com as suas necessidades”, numa visão holística em que a duração e frequência das visitas é adequada à realidade familiar.

Nalguns casos, visitam o doente duas ou três vezes por dia, noutros uma ou duas vezes por semana. Às vezes é preciso explicar às famílias como administrar medicação ou como higienizar ou exercitar o doente; noutras, há que “ouvir os problemas e os desabafos, mediar conflitos e contribuir para o perdão e paz familiar”.

A todos deixam o número de telemóvel que mesmo aos fins de semana funciona “como uma espécie de âncora para as famílias ligarem sempre que tenham dúvidas ou precisem de um conselho”, conta Maria José.

Na relação que acaba por ser mais familiar do que profissional, Maria José já viu morrer doentes que teve a sorte de “poder cuidar naquela hora em que a presença de quem cuida é tão importante”. Acompanha no luto os familiares que ficam.

O apoio emocional às famílias enlutadas e à própria equipa é uma das vertentes do serviço que, segundo a coordenadora, Teresa Manteigas, tem contribuído para que “a maioria das pessoas consiga lidar com o processo da perda, gerir as suas reações e lidar com o sofrimento”.

É a Teresa Manteigas, responsável pela área da saúde mental, que chegam casos como os de doentes oncológicos que pedem para morrer em casa junto da família ou dos doentes mentais que é preciso acompanhar para que cumpram “a medicação e, agora nesta fase, as medidas de confinamento”.

Em tempo de “solidão e medo da pandemia” a UCC tem a funcionar “um serviço de apoio emocional, com atendimento telefónico, às pessoas com mais dificuldades em gerir o confinamento”. Mas, Teresa Manteigas não tem dúvidas de que, “quando a pandemia der tréguas, vão aumentar os casos de depressão e outros problemas a necessitar de tratamento”.

Quando chegar o dia, a equipa da UCC lá estará, pronta a intervir, como faz todos os dias – agora com cuidados redobrados na proteção pessoal de profissionais e utentes que, em alguns casos, viram a frequência das visitas diminuídas devido à pandemia de covid-19.

“Mas todos compreendem”, assegura a responsável, acrescentando que todos os dias recebem telefonemas de alguma família a saber se estão bem.

Estão, assegura, sublinhando que nem entre os doentes nem na equipa da UCC foi até hoje registado qualquer caso de covid-19.

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Agência Lusa
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